domingo, 30 de maio de 2010

South Africa - Os 24

Nos últimos dias vi meninos de vinte anos a serem tratados como realeza. Hoje vi duzentos mil, a protestar por melhores condições de vida. Em poucos dias, passei do país do faz de conta, para o real. O bem real.

Parece que chegam cansados. Que tiveram épocas de pontapés na bola esgotantes e que alguns até se estão a retirar. Até há quem diga que chegam com o sentimento de que fazem um favor aos pobres coitados que vão assistir aos treinos. Há quem diga muita coisa.

No país dos recibos verdes, dos ordenados de 400€ e em que as ajudas sociais são discutidas, há 24 com direito a tratamento de luxo. Se magoam uma unha? Alguém lhes faz o tratamento. Se querem descansar? Reservam-lhes dois hotéis no topo do país. E ainda vivem rodeados de gente focadas em garantir-lhes o bem estar. Ganham 800€ por dia.

Geram e recebem milhões. Mas as cidades enchem para os ver passar e até o mais lúcido dos cidadãos perde o controlo com uma das suas pancadas na bola. Têm o dom dos sprints que causam calafrios e dos saltos que nos deixam respirar fundo. Bem ou mal aproveitado, bem ou mal entregue, os melhores têm um dom especial. O de fazer, nem que seja por breves instantes, esquecer tudo o resto. Por isso, fazem-se pagar bem e nem é a maior injustiça conhecida.

Hoje, milhares de pessoas pediram justiça. Nos ordenados, nas oportunidades de vida e na sorte. E ainda assim chego ao fim do dia convencido que a solução não se avizinha fácil. A luta vai ser dura , longa e o desfecho nem é sequer fácil de prever. Os 24 não estão entre os culpados, nem tão pouco entre os que podem ajudar a resolver o problema. Mas têm um dom e desta vez, se calhar mais que nunca, deviam ter brio em o exibir. Nem que fosse por breves instantes, fariam esquecer tudo o resto. Nestas alturas, ricos, remediados ou pobres têm de ter brio. Dar o exemplo e provar que, seja em que divisão for, são capazes de vencer.

Tony Allen, Secret Agent




Enjoy

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