Como em tantos Sábados de offshore, às primeiras horas do dia a autoestrada tornou-se no ponto de encontro da tribo do surf. Como se a costa estivesse a ser varrida por um simpático vento Leste, os carros encheram com a malta dos gorros, das camisolas quentes e dos grandes óculos de sol. Como de costume, todos partilhavam o mesmo objectivo, mas desta vez ninguém pensava em fazer o tubo perfeito.
A noventa quilómetros de Lisboa, estavam reunidos os 45 melhores surfistas do Mundo e todos queriam ver a batalha pelo título Mundial. Parko e Fanning, para satisfação dos junkies do Fantasy Surfer, estão a decidir o título Mundial e o portuguese tiger até vinha com um surf bem oleado. Vencer Kelly Slater motiva qualquer um e mais ainda motiva quem apenas quer manter o seu lugar entre os 45. A história do evento também não ajudava Tiago Pires. Há anos que o WCT não passava por Portugal e uma vitória garantir-lhe-ia – além do lugar no próximo WCT - um lugar nos Livros. Melhor que ninguém, Tiago Pires sabia tudo o que estava em jogo.
A meio caminho, chegou uma mensagem que tornou o meu pé direito mais pesado: “Tow in na Baía”. O vento não podia estar pior orientado, mas à costa tinha mesmo chegado a maior ondulação, até ver, da temporada. O campeonato dificilmente começaria, mas os rapazes já estavam na água. Mick Fanning e Taylor Knox, decidiram ir surfar a direita que em 15 anos, de visitas regulares, só um bravo surfou. Na quarta-feira, dois dos melhores surfistas do Mundo fizeram o mesmo de moto de água e eu, que tenho uma relação obsessiva com a almofada, não vi. As fotos são esclarecedoras.
A sala reservada aos jornalistas era a melhor da história. Simples, mas com uma parede de vidro apontada para o Lagido que lançava sets com dois ou três metros de close outs, ou muito perto disso. Ainda houve quem lá tivesse ido experimentar, mas a turminha dos Et’s preferiu o mais abrigado Molhe Leste.
Nunca tinha visto, ao vivo e a cores, uma prova desta galáxia do Surf e o nível é mesmo assustador. Desde que tenha força, eles surfam. E força é coisa que raramente falta ao mar de Peniche. Depois de os ver surfar, fiquei com uma nova dúvida: Se o nível é este quando o mar está todo partido, como seria o Surf se os Supertubos aparecessem?
O Saca até pode ser bom rapaz. E é certo que teve muito azar no horário do heat, mas não me parece que tenha nível para aquilo. Naturalmente, é aqui que a tribo se divide. De um lado, os crentes, os que culpam as ondas ou o formato da competição. Do outro, os que acham que falta Ar ao surf de Tiago Pires ou que, simplesmente, não lhe reconhecem grande Magia. Eu não sou fã.
Quando surfa, Tiago Pires faz-se notar. Levanta água como os melhores e se as ondas oferecerem tubos é certo que retribui, com classe, o presente. No reportório, faltam manobras aéreas e na cabeça falta-lhe o espírito assassino. Numa competição como a do WCT, as quebras de moral são fatais e ondas retraem-se sempre que algum mal-humorado as visita. Em Peniche, a pressão era grande e Saca voltou a ceder. Mais que nunca, a tribo dividiu-se. De um lado, uns culpam as ondas e os árbitros. Do outro, questiona-se o gabarito do artista. Certo é que ao fim de meia hora, a melhor surpresa que a multidão pode esperar é a vitória de um «naturalizado» que se apurou para o segundo round.
Para quem quiser, durante os próximos dias numa praia perto de si, os melhores surfistas do Mundo vão continuar a enfrentar o nosso mar. Não se paga bilhete e o frio pode facilmente ser contrariado. Provavelmente, as ondas não serão as melhores, mas os protagonistas garantem um espectáculo único. Amanhã, lá andarei. Afinal, também quero ver quem ganha: Parko ou Fanning?
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