Há dias que acompanho com atenção a batalha entre os Rage Against the Machine e o Simon Cowell, a verdadeira estrela dos Ídolos. Mas hoje tudo tomou uma nova dimensão. Porquê? Porque ouvi a música mais popular da última fornada do reality show inglês. "The Climb", de um tal de Joe McElderry.
Em Inglaterra, ainda os Beatles não existiam e já a música que liderava as vendas no dia de Natal merecia uma atenção especial. Por lá passaram, quatro vezes, os Fab Four, os Pink Floyd, os Queen, o Michael Jackson e sim, também alguns acidentes - as Spice Girls conquistaram o título tantas vezes como os Beatles e em 1988 foi Cliff Richards quem ganhou a corrida. De há quatro anos para cá, tudo piorou e os vencedores têm sido sempre produtos da fábrica X Factor.
O grito de revolta nasceu no Facebook quando um fã dos Rage Against the Machine decidiu lançar a campanha para que "Killing in the name", original de 1992, destronasse o mais recente produto da linha de montagem de Cowell. Inesperadamente, a horas de fechar a contagem, os RATM estavam à frente.
Além de um ou outro vídeo do YouTube, nunca vi o "X Factor", mas a julgar pela amostra portuguesa a música é a menor das preocupações da produção. Feios não entram, gordos dificilmente passam e se não tiverem um gosto de roupa que agrade ao júri estão condenados a serem catalogados como 'azeiteiros'.
Nada contra o programa de que até sou espectador, mas convém salvaguardar as distâncias entre fenómenos de popularidade e músicos. Os músicos trabalham para os discos, os fenómenos de popularidade herdam o trabalho feito por produtores, compositores e letristas principescamente pagos para construir singles de sucesso. O negócio é lucrativo: Cowell, júri e executivo da editora que lança os discos dos candidatos a estrelas, receberá cerca de 100 milhões de euros para apresentar a próxima temporada norte americana do programa.
Zack de la Rocha usa rastas, t-shirts gastas e estou certo que não consegue cantar o "I will survive". Tom Morrelo e Brad Wilk são feios e Tim Commerford tem o tronco coberto por tinta preta. Nunca passariam no Ídolos, mas mesmo assim formaram uma das melhores bandas dos anos noventa. Joe McElderry não inventou nada. Em palco a fórmula é a do costume - sorriso Pepsodent e afinadinho - em CD a receita também nada tem de original: música orelhuda, letra cheia de "passos sem direcção" a caminho de "batalhas em encostas íngremes", um pianinho e umas guitarras para fazer ruído de fundo. Naturalmente que não faltam guinchos.
Enquanto escrevia este texto, o New Musical Express publicou a última contagem e o menino já tinha ultrapassado os RATM. Desculpem-me o final abrupto, mas tenho de ir ao iTunes comprar uma música que já tenho em CD.
Enjoy
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