Um bom lema de vida.
Enjoy
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
The Police
(reprint de 2007)
Quando no dia 16 de Julho de 1981 Stewart Copeland chegou ao seu local de trabalho foi surpreendido. A bateria estava enfeitada com colares havaianos e a pele de cada tarola tinha sido simpaticamente decorada. “Vai-te lixar”, “Desaparece”, e “Palhaço” eram algumas das inscrições que os seus colegas lhe tinham dedicado. Copeland fazia 29 anos de idade, mas as gravações de Zenyatta Mondatta, o terceiro disco de originais dos Police, não podiam parar. Os dois primeiros álbuns tinham-nos transformado num fenómeno da música mundial, a pressão tinha aumentado e a editora estava sequiosa por mais um disco nos tops de vendas. Por esta altura já Sting assumira a liderança do trio completado pelo guitarrista Andy Summers. “As composições eram geniais, mas o Sting trazia quase tudo feito de casa e gostava cada vez menos que nós alterássemos as suas músicas”, recordou, anos mais tarde, Copeland. Ao fim de apenas 4 anos em conjunto, os Police já estavam no topo do mundo, mas discretamente também já tinham iniciado o caminho para o fim. As músicas de Sting garantiam o sucesso do grupo, mas o seu temperamento também se revelava uma séria ameaça à sobrevivência da banda. Durante as gravações de Zenyatta Mondatta, Andy Summers compôs um instrumental chamado Behind my camel mas Sting não gostou e recusou-se tocá-lo. “Odiava a música de tal maneira que quando um dia no estúdio vi a fita da gravação em cima da mesa peguei-lhe e fui enterrá-la no quintal”, confessou Sting. A composição de Summers acabou por entrar no alinhamento do disco e até ganhou um Grammy, mas foram duas músicas de Sting que garantiram o sucesso do álbum: De Do Do Do, De Da Da Da e Don’t Stand so close to me. Mais uma vez tinha ficado provado quem era o verdadeiro génio por detrás do sucesso dos Police. Os últimos três anos da viagem vão agora ser contados num livro da Taschen com 600 fotografias feitas por Andy Summers: I’ll be Watching You: The Police, 1980-1983.
Em Janeiro de 1977, no auge da explosão do Punk, Stewart Copeland e Sting conheceram-se num clube de Jazz em Londres. A ideia de formar uma banda foi imediata e decidiram chamar Henri Padovani, guitarrista, para começar a ensaiar. A primeira formação durou poucos meses. Já nessa altura Sting era exigente e rapidamente percebeu que Padovani não tinha a qualidade técnica necessária para os acompanhar. Andy Summers, guitarrista de rock fusão, juntou-se ao grupo, mas todos perceberam que uma das guitarras estava a mais. A escolha foi rápida e em Agosto desse ano, Padovani abandonou os Police.
Além dos Clash, dos Sex Pistols e dos norte-americanos Ramones, nessa altura em Londres, um misterioso músico americano fazia sucesso sob o pseudónimo de Klark Kent e a imprensa rapidamente começou a apontar para Stewart Copeland, natural de Virgina nos Estados Unidos, como o autor das músicas. O boato nunca foi completamente confirmado, mas pela primeira vez os Police apareceram nos jornais. Os tempos em que corriam os bares londrinos com o nome de The Elevators e em que cobravam apenas 5 libras cada um por concerto estavam a ficar para trás. No final do ano, a Wringleys Spearmint desafiou os três músicos para pintarem o cabelo de loiro lexívia e gravarem um anúncio de televisão. Precisavam de dinheiro para lançar o primeiro disco e cederam às libras do sistema contra o qual todos os Punks se manifestavam. Perderam os fãs mais puros, foram acusados pela imprensa de se terem vendido, mas conseguiram financiar a sua primeira digressão aos Estados Unidos e a gravação do primeiro disco como Police: Outlandos d’Amour. O primeiro single, Roxanne, ficou para a história e motivou alguns dos momentos mais hilariantes da vida do grupo. Em 1980, os promotores do concerto no Agora Ball, em Atlanta, decidiram organizar um concurso entre as espectadoras: Quem é a Roxanne? Antes do encore, 50 raparigas alinharam-se em lingerie para serem avaliadas quando os músicos regressassem ao palco. “Enquanto olhávamos para as aspirantes a Roxanne, iamos dizendo uns aos outros que éramos uns porcos sexistas”, recordou na sua autobiografia, One Train Later, Andy Summers. Mais uma vez, Sting teve direito ao voto decisivo e foi ele quem escolheu a vencedora de um prémio que ainda hoje é mantido em segredo.
Mas nem sempre foi assim e na primeira digressão, em 1977, a verdadeira luta não era para sobreviver a tanta festa, mas sim para, simplesmente, conseguir dormir debaixo de um tecto e fazer duas refeições por dia. A bordo de uma velha carrinha Ford, os três músicos viajaram acompanhados pelos irmãos de Stewart: Ian Copeland era o responsável por encontrar bares que os contratassem enquanto Miles Copeland, se encarregava de fazer as músicas do grupo passar na rádio. Kim Turner, um amigo de longa data do trio, juntou-se à viagem no papel de motorista. Os locais para dormir eram escolhidos consoante o caminho para o próximo concerto, a alimentação era assegurada nos restaurantes na beira das estradas e todos os cêntimos estavam contados: para os seis elementos da comitiva tinham apenas 300€ por dia e tinha de chegar para alimentação, alojamento e combustível. O som soava a novo. Reagge, Ska, Punk e até sonoridades de Jazz foram misturadas logo desde o início da carreira e o público aderiu imediatamente. Quando no final de 1978 regressaram a Inglaterra já tinham conquistado um razoável grupo de seguidores – o disco de estreia chegou ao top 30 das vendas em Inglaterra - e receberam os seus primeiros banhos de multidão. A carrinha velha em que passaram centenas de horas tinha ficado do outro lado do oceano atlântico e rapidamente começaram a chegar aos concertos a bordo de modelos da Jaguar.
O som reagge
Gordon Summer, conhecido como Sting por ter tocado num concerto de jazz com uma camisola amarela com riscas pretas, já era o líder incontestado do grupo e no segundo disco mostrou porque merecia o posto. Em 1979, para abrir Reggatta de Blanc compôs Message in a botle e pela primeira vez os Police chegaram ao topo das tabelas de vendas no Reino Unido. Nascidos no meio da moda do punk, foi quando se aproximaram mais do som reagge, o título do álbum é uma tradução livre de francês de reagge de brancos, que chegaram ao sucesso. “Nunca vão ouvir as nossas batidas num disco de verdadeiro reagge. O som é exclusivamente nosso, chamo-lhe reagge branquela”, disse Stewart Copeland na sua primeira entrevista à Rolling Stone. Da mistura musical ainda nasceram mais três discos de sucesso: Zenyatta Mondatta (1980), Ghost in the Machine (1981), e Synchronicity (1983).
Nos primeiros anos da década de 80, os Police já eram a maior banda do mundo. Além de várias viagens pelos Estados Unidos e Europa, ainda fizeram digressões à Índia, à Austrália, ao Brasil e Hong Kong e nunca encontraram uma bancada vazia. Habituaram-se a viver na estrada, longe das famílias e dos filhos, mas os problemas começaram a aparecer. Em 1983, Sting era a estrela da banda, detestava que os seus colegas impusessem alterações às músicas que compunha e todos começavam a sentir o cansaço de cinco anos em digressões quase ininterruptas. O anúncio chegou no auge da banda. Synchronicity chegou ao topo das vendas em vários países, incluindo Inglaterra e Estados Unidos, de onde desalojou Thriller de Michael Jackson, e ganhou três Grammys. No entanto, durante a sua digressão a tensão entre os membros da banda tornou-se insuportável e em Março de 1984, no final do concerto no Shea Stadium em Queens, anunciaram uma pausa para recuperar energia. Nunca mais voltaram. “Nós somos uma indústria de vários milhões de dólares. Somos só três. Temos tudo isto e mesmo assim parece que foi há cinco minutos que andávamos em Londres a empurrar uma carrinha avariada depois de termos dado um concerto para ninguém”, escreveu na autobiografia Andy Summers sobre o dia do último concerto. Da mesma forma que os tinha guiado ao sucesso, também foi Sting que acabou com uma das maiores bandas de rock da história. “Há alturas em que a ambição é mais forte do que a amizade”, justificar-se-ia anos mais tarde.
Copeland dedicou-se à composição de bandas sonoras para filmes, trabalhou com Oliver Stone em Wall Street, Andrews passou por vários projectos de jazz fusão e Sting nunca parou de crescer. Da mesma forma que em 1980 aprendeu sozinho a tocar saxofone para acrescentar mais um pormenor ao som dos Police, recentemente passou 5 horas por dia, durante 18 meses, a aprender a tocar as 27 cordas que tem um Alaúde. Logo no seu primeiro disco a solo, The Dream of the Blue Turtles (1985) incluiu numa das suas músicas, Russians, uma composição de Sergei Prokoviev e pediu a Bradford Marsalis, hoje um dos mais respeitados saxofonistas de jazz do mundo, para o acompanhar. No ano passado, quando já todos pensavam que não guardava mais surpresas, editou um disco de música barroca, Songs from the Labyrith, na Deutsche Grammophon uma das mais conceituadas editoras de música sinfónica do mundo.
Além do reconhecimento artístico, o talento de Sting valeu-lhe uma considerável fortuna e só a lista de casas impressiona. O antigo vocalista dos Police tem um mansão de 60 hectares em Wiltshire, uma casa de campo no norte de Inglaterra, um apartamento em Nova Iorque, uma casa de praia em Malibu e uma propriedade de campo na Toscânia em Itália. No total, os seus bens estão avaliados em cerca de 270 milhões de euros e só na digressão a solo em 2005 amealhou 87 milhões de euros. Talvez por isso, sempre recusou a ideia de se voltar a reunir com os seus velhos companheiros de estrada e desde a despedida só voltaram a tocar juntos numa iniciativa da Amnistia Internacional, logo em 1986, e no casamento de Sting com Trudie Styler. “Foi uma festa em que não faltavam bebidas e a certa altura todos nos pediram para ocuparmos o lugar da banda. Bastaram uns minutos para a voltar a sentir a velha energia”, recordou anos mais tarde Stewart Copeland. Não se sabe se terão sido as saudades que levaram Sting a promover a reunião, mas a história recomeça em Vancouver no próximo dia 27.
Enjoy
domingo, 7 de fevereiro de 2010
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
Medo
Lembro-me de olhar para a berma. De sentir o enorme jipe a deslizar. Já não ouvi os gritos dos pneus. Lembro-me de deixar de ver. E afinal, não o sabia, o carrocel só estava a começar.
Estou longe de estar sozinho, pois são muitos os que dizem que sentir por perto a morte muda a vida que se segue. Acrescento que ás vezes, nem é preciso ser a nossa. Saber que só por sorte não se perdeu o pai ou a mãe, a irmã, um amigo próximo ou um primo, faz-nos pensar no velho chavão. Mas a vida é mesmo um bem demasiado frágil.
É o guincho mais arrepiante que já ouvi. O som do metal a raspar no alcatrão, prensado por algumas toneladas de jipe, assusta. Pior, só mesmo o silêncio que se seguiu. Lembro-me de sentir uma pausa, segundos antes de um grande abanão.
Hoje um primo despistou-se. Piso molhado, cavalos a mais debaixo do pé direito e garantidamente que excesso de velocidade. Nada demais. Diz quem viu, que "nem ia depressa". Eu, reservo-me o direito de duvidar.
Lembro-me de olhar para trás e ver a minha mãe e a minha irmã. Lembro-me de respirar fundo ao constatar que os cintos de segurança estavam apertados e que não tinham cedido. Apercebi-me que, se assente nas portas, o habitáculo de um Discovery é do tamanho de uma sala de estar. À procura do pai, olhei para baixo e só vi chapa. Ali, bem por cima da alavanca das velocidades o tejadilho tinha cedido.
Meia dúzia de piões e um carro para sucata. Hoje o meu primo teve a sorte da vida. Ninguém lhe acertou, sobreviveu para contar e nem teve de esperar muito para ser acordado pelos senhores do INEM. Perdeu os sentidos, esperam-no vários meses de recuperação, mas não ficará com grandes mazelas.
Instintivamente, deitei a mão ao meu pai. Lembro-me bem de ver a palma da mão vermelha com sangue. Naquele momento, a última coisa que me passava pela cabeça é que a ferida não era maior que um galo na cabeça. Lembro-me da viagem até ao Hospital em que os bombeiros nos diziam que não era possível termos escapado ilesos.
Hoje o meu primo não teve a mesma sorte. Agora, recupera numa das camas do Hospital de São José, enquanto revê, dezenas de vezes, o filme do dia. Sim, ver a morte de perto, parece um filme. Nem mais, nem menos. Esquecemos bocados, a dor física nunca é tão grande como parece e no final, há sempre alguma coisa que fica. O meu primo, nunca se esquecerá a manhã em que engarrafou uma das maiores avenidas de Lisboa. Viu a morte por perto e eu sei bem o que sentiu.
A gente vai continuar
Enjoy
Estou longe de estar sozinho, pois são muitos os que dizem que sentir por perto a morte muda a vida que se segue. Acrescento que ás vezes, nem é preciso ser a nossa. Saber que só por sorte não se perdeu o pai ou a mãe, a irmã, um amigo próximo ou um primo, faz-nos pensar no velho chavão. Mas a vida é mesmo um bem demasiado frágil.
É o guincho mais arrepiante que já ouvi. O som do metal a raspar no alcatrão, prensado por algumas toneladas de jipe, assusta. Pior, só mesmo o silêncio que se seguiu. Lembro-me de sentir uma pausa, segundos antes de um grande abanão.
Hoje um primo despistou-se. Piso molhado, cavalos a mais debaixo do pé direito e garantidamente que excesso de velocidade. Nada demais. Diz quem viu, que "nem ia depressa". Eu, reservo-me o direito de duvidar.
Lembro-me de olhar para trás e ver a minha mãe e a minha irmã. Lembro-me de respirar fundo ao constatar que os cintos de segurança estavam apertados e que não tinham cedido. Apercebi-me que, se assente nas portas, o habitáculo de um Discovery é do tamanho de uma sala de estar. À procura do pai, olhei para baixo e só vi chapa. Ali, bem por cima da alavanca das velocidades o tejadilho tinha cedido.
Meia dúzia de piões e um carro para sucata. Hoje o meu primo teve a sorte da vida. Ninguém lhe acertou, sobreviveu para contar e nem teve de esperar muito para ser acordado pelos senhores do INEM. Perdeu os sentidos, esperam-no vários meses de recuperação, mas não ficará com grandes mazelas.
Instintivamente, deitei a mão ao meu pai. Lembro-me bem de ver a palma da mão vermelha com sangue. Naquele momento, a última coisa que me passava pela cabeça é que a ferida não era maior que um galo na cabeça. Lembro-me da viagem até ao Hospital em que os bombeiros nos diziam que não era possível termos escapado ilesos.
Hoje o meu primo não teve a mesma sorte. Agora, recupera numa das camas do Hospital de São José, enquanto revê, dezenas de vezes, o filme do dia. Sim, ver a morte de perto, parece um filme. Nem mais, nem menos. Esquecemos bocados, a dor física nunca é tão grande como parece e no final, há sempre alguma coisa que fica. O meu primo, nunca se esquecerá a manhã em que engarrafou uma das maiores avenidas de Lisboa. Viu a morte por perto e eu sei bem o que sentiu.
A gente vai continuar
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